Jardim de Infância de Parada
Lenda dos Sete Infantes de Lara
Há muitos e muitos anos, houve na aldeia de Parada [de Infanções], concelho
de Bragança, uma mulher, chamada Dona Sancha, que teve sete filhos de um só ventre. E viu-se tão envergonhada com isso
que combinou com a criada para que lhe fosse afogar seis, tendo escolhido um
para criar. Quando a criada ia com os meninos metidos numa canastrinha a
caminho do rio, encontrou o patrão, o famoso Conde Gonçalves, que andava à caça. Ao vê-la, perguntou-lhe:
— Que levas nessa canastrinha?
E a criada respondeu:
— Levo cãezinhos de uma cadela que pariu lá em casa. A senhora apenas quis um e mandou afogar estes.
Diz-lhe então o Gonçalves:
— Pois não quero que os afogues. Volta para casa com eles e diz à senhora que fui eu que mandei.
A criada alterou-se contra o patrão, e não lhe queria obedecer. Dizia que eram ordens da patroa. E essas é que valiam. Então o conde, mais arreliado ainda, tira-lhe a canastrinha das mãos e vê lá os meninos. E diz-lhe:
— Valha-me Deus, mulher, que isto é parte do meu coração!
E assim o conde salvou os filhos. Mandou então a criada embora, dizendo-lhe que guardasse segredo junto da patroa. Que ele faria igual. A seguir foi espalhar os seis irmãos pelas aldeias das redondezas, para que lhos criassem. Quando atingiram a idade de sete anos, resolveu juntá-los novamente e apresentá-los à mãe. Vestiu-os todos de igual e meteu-os numa sala, juntamente com o que ela tinha. Depois chamou a mulher e disse:
— Vai visitar o teu filho. E vê se o reconheces entre os demais.
Mal a mulher olhou para eles, caiu redonda no chão, desmaiada. Quando acordou pediu perdão ao marido e aos filhos e passaram a viver unidos e felizes.
Os anos correram e, num certo dia, o Conde Gonçalves, a mulher e os sete infantes, foram convidados pelo Rei Blasques, para o casamento de uma filha. Como eram família, lá foram então ao casamento. E quando estavam na festa, um dos sete infantes, que era o mais brincalhão, atirou uma pulha à noiva. Ela não gostou e foi queixar-se ao rei, pedindo-lhe vingança. E o rei para se vingar resolve esperar por melhor ocasião. Dali a dias, mandou o Conde Gonçalves com uma embaixada ao rei mouro. Fez uma carta, fechou-a, e disse ao conde que fosse levá-la a Córdova, ao rei mouro. E que esperasse pela resposta.
O conde assim fez. Levou a carta, só que não sabia o que ela dizia. Por isso não lhe passava pela cabeça que a carta o denunciava como traidor. E que pedia ao rei mouro que castigasse o mensageiro com a morte. O rei mouro, ao ler a carta, mandou logo encerrar o Conde Gonçalves nas masmorras, esperando mandá-lo matar na hora própria.
Entretanto, o tempo passou, e, como o conde nunca mais regressava a sua casa, os sete irmãos, desconfiando que tivessem feito mal a seu pai, foram lá para o resgatar. E travaram uma batalha, sozinhos, contra quinze mil mouros. Uma batalha que não puderam vencer. Acabaram todos eles mortos e degolados.
Depois o rei mouro mandou pôr as sete cabeças numa bandeja e deu ordens para que as levassem às masmorras, ao pai dos infantes. A vida do Conde Gonçalves, depois disto, foi terrível no cativeiro do rei mouro. Valeu-lhe uma filha deste que, sabendo do sucedido, teve pena do prisioneiro e afeiçoou-se a ele. Às escondidas do rei, a jovem protegeu-o como pôde. E um dia disse-lhe:
— Se negares a tua religião e professares a minha, posso salvar-te.
Ao que o conde lhe respondeu:
— Antes sofrer mil mortes!
A princesa moura, ao aperceber-se da força tamanha que tinha a fé do prisioneiro, dispondo-se a dar por ela a sua própria vida, ainda se afeiçoou mais a ele. Passou a ser mais que sua protetora. Enamoraram-se. E com isto arranjaram um filho, ao qual puseram o nome Mudarra. Quando ele cresceu e soube a verdade sobre o seu pai e sobre a morte dos seus irmãos, resolve vingar-se, matando o Rei Blasques e outros que com ele colaboraram.
Depois, procurou nas masmorras o Conde Gonçalves. Como não o conhecia, perguntou a um homem velho e cego que encontrou:
— Há aqui um tal Gonçalves?
O velho respondeu:
— Eu lhe darei razão dele. Fale-me aqui ao ouvido, e diga-me o senhor quem é.
Tornou-lhe então Mudarra:
— Sou filho duma moura, mas por Gonçalves fui gerado!
O velho conde, comovido, abraçou-se ao jovem e disse:
— Sou esse que procuras!
Mudarra tirou o pai da prisão e levou-o para a sua casa em Parada. E ali passou a viver com ele, sob as leis do cristianismo. A casa ainda lá existe (Fig 1) E a aldeia é conhecida como Parada de Infanções, em memória dos sete infantes.
— Que levas nessa canastrinha?
E a criada respondeu:
— Levo cãezinhos de uma cadela que pariu lá em casa. A senhora apenas quis um e mandou afogar estes.
Diz-lhe então o Gonçalves:
— Pois não quero que os afogues. Volta para casa com eles e diz à senhora que fui eu que mandei.
A criada alterou-se contra o patrão, e não lhe queria obedecer. Dizia que eram ordens da patroa. E essas é que valiam. Então o conde, mais arreliado ainda, tira-lhe a canastrinha das mãos e vê lá os meninos. E diz-lhe:
— Valha-me Deus, mulher, que isto é parte do meu coração!
E assim o conde salvou os filhos. Mandou então a criada embora, dizendo-lhe que guardasse segredo junto da patroa. Que ele faria igual. A seguir foi espalhar os seis irmãos pelas aldeias das redondezas, para que lhos criassem. Quando atingiram a idade de sete anos, resolveu juntá-los novamente e apresentá-los à mãe. Vestiu-os todos de igual e meteu-os numa sala, juntamente com o que ela tinha. Depois chamou a mulher e disse:
— Vai visitar o teu filho. E vê se o reconheces entre os demais.
Mal a mulher olhou para eles, caiu redonda no chão, desmaiada. Quando acordou pediu perdão ao marido e aos filhos e passaram a viver unidos e felizes.
Os anos correram e, num certo dia, o Conde Gonçalves, a mulher e os sete infantes, foram convidados pelo Rei Blasques, para o casamento de uma filha. Como eram família, lá foram então ao casamento. E quando estavam na festa, um dos sete infantes, que era o mais brincalhão, atirou uma pulha à noiva. Ela não gostou e foi queixar-se ao rei, pedindo-lhe vingança. E o rei para se vingar resolve esperar por melhor ocasião. Dali a dias, mandou o Conde Gonçalves com uma embaixada ao rei mouro. Fez uma carta, fechou-a, e disse ao conde que fosse levá-la a Córdova, ao rei mouro. E que esperasse pela resposta.
O conde assim fez. Levou a carta, só que não sabia o que ela dizia. Por isso não lhe passava pela cabeça que a carta o denunciava como traidor. E que pedia ao rei mouro que castigasse o mensageiro com a morte. O rei mouro, ao ler a carta, mandou logo encerrar o Conde Gonçalves nas masmorras, esperando mandá-lo matar na hora própria.
Entretanto, o tempo passou, e, como o conde nunca mais regressava a sua casa, os sete irmãos, desconfiando que tivessem feito mal a seu pai, foram lá para o resgatar. E travaram uma batalha, sozinhos, contra quinze mil mouros. Uma batalha que não puderam vencer. Acabaram todos eles mortos e degolados.
Depois o rei mouro mandou pôr as sete cabeças numa bandeja e deu ordens para que as levassem às masmorras, ao pai dos infantes. A vida do Conde Gonçalves, depois disto, foi terrível no cativeiro do rei mouro. Valeu-lhe uma filha deste que, sabendo do sucedido, teve pena do prisioneiro e afeiçoou-se a ele. Às escondidas do rei, a jovem protegeu-o como pôde. E um dia disse-lhe:
— Se negares a tua religião e professares a minha, posso salvar-te.
Ao que o conde lhe respondeu:
— Antes sofrer mil mortes!
A princesa moura, ao aperceber-se da força tamanha que tinha a fé do prisioneiro, dispondo-se a dar por ela a sua própria vida, ainda se afeiçoou mais a ele. Passou a ser mais que sua protetora. Enamoraram-se. E com isto arranjaram um filho, ao qual puseram o nome Mudarra. Quando ele cresceu e soube a verdade sobre o seu pai e sobre a morte dos seus irmãos, resolve vingar-se, matando o Rei Blasques e outros que com ele colaboraram.
Depois, procurou nas masmorras o Conde Gonçalves. Como não o conhecia, perguntou a um homem velho e cego que encontrou:
— Há aqui um tal Gonçalves?
O velho respondeu:
— Eu lhe darei razão dele. Fale-me aqui ao ouvido, e diga-me o senhor quem é.
Tornou-lhe então Mudarra:
— Sou filho duma moura, mas por Gonçalves fui gerado!
O velho conde, comovido, abraçou-se ao jovem e disse:
— Sou esse que procuras!
Mudarra tirou o pai da prisão e levou-o para a sua casa em Parada. E ali passou a viver com ele, sob as leis do cristianismo. A casa ainda lá existe (Fig 1) E a aldeia é conhecida como Parada de Infanções, em memória dos sete infantes.
Fig. 1 |
Fonte
BiblioPARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos,
Serpentes, Tesouros Vila Nova de Gaia, Gailivro, 2006 , p.220-222
Ano2001
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