segunda-feira, 19 de março de 2018

"Regras e limites para o bem estar"



**Regras e limites para o bem estar**

O psicólogo Javier Urra defende que os educadores de hoje tendem a tornar-se "pais helicóptero", que supervisionam os filhos de forma constante, superprotegendo as crianças e fazendo-as sentir-se reis e equivocadas na importância do seu papel.
Há uma sociedade do medo. São 'pais helicóptero', sempre a supervisionar a criança para que não coma terra, não tropece, não caia. O filho está sempre protegido, sobre mimado e há um momento em que se sente o rei e se equivoca. Ele é tão importante como os outros, mas não mais importante", sintetiza Javier Urra.
"Em países como Angola ou o Quénia isto dificilmente se passará, porque não se aceita uma alteração das regras na casa. Aqui, nos nossos países, queremos ganhar o carinho dos filhos, deixamo-nos chantagear por eles. Antes, os pais não tinham tantos livros nem tantas séries de televisão, mas tinham critérios: isto está bem ou isto nesta casa não se passará assim", argumenta Javier Urra, em entrevista à agência Lusa.
As crianças, desde cedo, precisam de limites "Precisam de um código. Os pais são como uma parede onde chocam. Os adolescentes, sobretudo, precisam de chocar, chocar e ver que o outro não cede".
Há normas ou limites que Javier Urra considera basilares para evitar que a criança sinta que pode tornar-se tirana: não permitir que maltrate ou ridicularize outras crianças ou adultos e não ceder a caprichos impróprios para cada idade (seja não querer ir à escola). Defende Javier Urra que as crianças precisam, desde cedo, de se habituar a normas básicas, como não estragar coisas ou respeitar hábitos básicos.
Mesmo que nem sempre seja culpa dos pais, uma criança adquirir o lugar de ditador em casa acontece geralmente porque não são passados critérios de limite ou de autocontrolo.
Há crianças que são caprichosas, sem limites, que dão ordens aos pais, organizam a vida familiar e chantageiam todas aqueles que tentam travá-las".
Para o próprio bem dos filhos (das crianças), reforça Javier Urra, há que dizer 'não' às crianças, até porque querê-la e amá-la não é dizer 'sim' a tudo.
Não escamoteando que já vivemos numa sociedade em que as crianças não tinham direitos e em que a educação era autoritária e quase se baseava no medo, o psicólogo espanhol julga que agora, por oposição, se rompeu uma das normas ancestrais da sociedade - o respeito.
Para evitar "não traumatizar", Javier Urra considera que se cede demasiado, que a sociedade está a ser permissiva e a educar os filhos nos seus direitos, mas não nos seus deveres, produzindo filhos tiranos.
"Para seu próprio bem, temos de dizer 'não' às crianças", resume.


                                                               
 Adaptação                                   

                                                                    Javier Urra, Psicólogo clínico e pedagogo terapeuta